AVES MIGRATÓRIAS
Os lagos do Zoológico de São Paulo são extensões do Riacho do Ipiranga que nasce no Parque do Estado formando um dos últimos remanescentes florestais da cidade. O Zoológico possui muitas aves brasileiras (nativas) e não-brasileiras (exóticas) nos 3 lagos existentes. E o mais curioso é saber que nos meses de inverno esse espaço, destinado a nossas aves, é dividido com outras espécies, as migratórias. Além de espécies oportunistas que vivem livremente na área do parque.
As aves oportunistas são aquelas que não pertencem ao Zoológico, mas que vivem nas proximidades e se aproveitam dos benefícios oferecidos ocasionalmente, como os restos de comidas dos animais cativos. É o caso da Garça-granca (Casmerodius albus) e do Socó (Nycticorax nycticorax), que ficam a espreita para capturar um ou outro peixe que possa escapar do leão marinho, pingüins ou pelicanos.
As aves migratórias, assim como as oportunistas, também aproveitam a farta oferta de alimento e um abrigo confortável, longe de predadores. Mas só aparecem durante os meses de seca, quando a temperatura em São Paulo começa a baixar, geralmente no mês de Abril. São elas em maior quantidade: marrecas-caneleiras e irerês.
Essas aves são pertencentes a família Anatidae, que corresponde aos patos, marrecos e gansos. São aves bem sociáveis vivendo sempre em grupo. Podem ser consideradas nômades, pois estão sempre a procura de um lugar seguro tanto para dormir como para fazer sua muda de penas, migrando sempre de acordo com a disponibilidade de alimento e a presença de água. Possuem o bico adaptado com um reforço na ponta em forma de unha, próprio para filtrar a água e dela extrair o seu alimento, como sementes e folhas, larvas de insetos e pequenos animais aquáticos como camarões e caranguejos, chegando algumas espécies a se alimentar de pequenos peixes. Não gostam de alimentos secos e consomem muitas plantas aquáticas. E ao mesmo tempo que podem participar no controle da população de plantas aquáticas de um lago, podem auxiliar na dispersão de suas sementes através das fezes.
Os irerês (Dendrocygna viduata) ocorrem em todo o Brasil, com abundância no sudeste e ocorrem também na África. Os adultos, de aproximadamente 44 cm, possuem uma máscara branca, asas negras bicos e pés escuros. São mais ativos ao entardecer sobrevoando assobiando principalmente durante as chuvas. Durante o dia descansam em bandos pequenos ficando de pé à beira dos lagos, onde se alimentam.
As marrecas-caneleiras (Dendrocygna bicolor) ocorrem também em todo o país, com menor freqüência no centro-oeste é um pouco maior que o irerê tendo 48 cm aproximadamente, possuem as pernas altas, asas largas, bicos e pés grandes (comparado com os demais anatídeos) cor de chumbo. Sua cor é parda-acanelada e as penas sobre a cauda são brancas. O vôo dessas pequenas marrecas é bastante veloz, sempre batendo as asas, nunca planando.
Os anatídeos já sofreram muito com a caça, que hoje é proibida por lei no Brasil, mas há também uma outra ameaça a esses animais que á a destruição de seu habitat, através do desmatamento das margens dos lagos e aterramento de áreas alagadas para o desenvolvimento urbano.
É sabido que no Rio Grande do Sul os irerês e as marrecas-caneleiras gostam de se reproduzir nas plantações de arroz, o que demostra a adaptação destas aves a áreas alteradas pelo homem.No mês de Agosto, pode-se observar aqui Zoológico o retorno dos grandes bandos de irerês e marrecas-caneleiras, sempre sobrevoando ao amanhecer e ao entardecer, mas logo ao final do inverno, todas voltam ao Rio Grande do Sul e Pantanal, novamente a procura das águas.